Foto:Priscilla Forone - Sebrae/PR
Ruas de pedras estreitas, repletas de um antigo casario, já fazem de Antonina, no litoral do Paraná, um interessante destino turístico. O convite se completa com bons restaurantes, pratos à base de peixe e camarão e com uma das melhores casquinhas de siri de toda a região.
Mas Antonina guarda ainda outros encantos - ao lado da beleza natural da baía e dos morros que cercam a cidade. São eles os artesãos. Alguns expõem seus trabalhos na Art'Nina, a associação dos artistas locais. Outros abrigam-se em verdadeiros refúgios onde o que reina é a inspiração da natureza.
É no bairro do Pinheirinho, popularmente conhecido como Mangue Seco, que pode ser encontrado o atelier de Alexandre Ztrahal, o Gaúcho. No Atelier Ubá - mesmo nome das canoas feitas de um tronco só pelos antigos indígenas da região - o artesão trabalha com madeiras de demolição e outros "presentes" da natureza para confeccionar baús, abajures e máscaras que já são famosas em algumas das pousadas e hotéis do Litoral.
"Durante quase 20 anos, trabalhei na área de publicidade e propaganda", conta Ztrahal. "Um dia decidi que queria viver num lugar mais tranquilo. E o que aconteceu foi uma verdadeira paixão. Conheci Antonina numa manhã e decidi ficar aqui para o resto da vida."
Com os filhos Anibal e Felipe, Alexandre encontrou na arte o sustento da família. Arte que pode ser vista em produção no atelier da Rua das Acácias, número 300. As máscaras recebem expressões africanas, os baús - feitos em madeira de antigos assoalhos - variam de tamanho, de acordo com o gosto e a necessidade de quem os procura e os abajures constituem um trabalho quase que à parte. A produção é minuciosa e requer uma série de cuidados.
"Usamos como matéria-prima o bambú", explica o artesão. "O segredo está em retirá-lo do mato entre a lua minguante e a lua nova, período que dura três dias. É quando a seiva do bambú baixa e, com ela, os carunchos. A preparação do bambú termina com o cozimento e a defumação. Mas nada menos que dois meses são necessários. É um investimento que fazemos no tempo e na arte."
SEMENTES E CRIATIVIDADE - Na mesma linha natural, outra artesã que vem ganhando destaque pela sua produção é Samantha Wanke. O que ela faz são souvenirs da região, usando como matéria-base sementes típicas do Litoral. "Olho uma semente, uma casca e vejo os animais de Antonina", conta. "Retiro do meio ambiente só aquilo que vou realmente usar e que já foi derrubado pelo vento ou pela chuva."
Assim, sementes de brejaúvas, indaiás, troncos e gravetos são lixados, escovados, serrados, para se transformar em corvos, porcos-espinhos e sabiás. "São pássaros e outras espécies que estão se tornando desconhecidos das pessoas", comenta Samantha. "Tento reproduzí-los para que elas saibam que não se pode mais destruir a natureza sem medir consequências."
À FLOR DA PELE - Mas outro artesanato que, aos poucos, vem ganhando espaço em Antonina é o dos produtos feitos com couro de peixe. A cooperativa - Copescarte - foi aberta com a intenção de valorizar as mulheres marisqueiras da região, dando-lhes uma fonte de renda a mais. Uma idéia da bióloga e artista plástica, técnica em processamento de peles, Leocília Oliveira da Silva.
"Fiz o curso de transformação de pele em couro pelo Sebrae, quando ainda morava na Amazônia", lembra. "Depois fui convidada para fazer meu mestrado - também em processamento de peles - em Maringá, aqui no Paraná. Um dia, vim conhecer Antonina e decidi ficar por aqui mesmo. O que fiz, para iniciar a cooperativa, foi adaptar a técnica para os peixes regionais como o robalo, a tainha, o linguado e a pescada amarela."
Uma peixaria da cidade separa as peles para as cooperadas. Uma ou duas vezes por semana elas fazem a coleta para dar início ao tratamento da matéria-prima. Cada pele de peixe leva entre dois e três dias para ser transformada em couro. São 15 etapas ou mais: limpeza, descarne, remolho, calagem, desencalagem, desengraxe, basificação, recurtimento, engraxe, tingimento e - se não for necessário refazer mais nenhuma delas, couro. E aí ainda vem toda a parte de modelagem, costura, que vai transformar tudo em roupas, sapatos, bolsas e até bijuterias.
"Nós começamos o trabalho apenas com as escamas. Com a venda das primeiras peças fomos comprando os equipamentos para trabalhar com as peles", explica Leocília. "Hoje ainda estamos batalhando para colocar nosso produto no mercado, mas já temos grandes vitórias. Todo o nosso tratamento de resíduos é aprovado pelo Instituto Ambiental do Paraná. Nossa meta é conseguir gerar uma boa renda para as 21 cooperadas."
"Quando se pensa turisticamente em uma região, não se pode deixar de pensar no artesanato", comenta Patrícia Albanez, gestora de projetos de turismo, da Regional Centro-Sul do Sebrae/PR. "Isso por que, geralmente, ele revela características importantes da própria região, transformando-se num verdadeiro patrimônio cultural. O litoral do Paraná é muito rico em termos de produção artístico-cultural. Paranaguá tem seus cestos e pequenas esculturas indígenas, Morretes seus produtos como as cachaças e balas de banana e Antonina esse trabalho diferenciado em madeira e materiais da natureza. Turismo e artesanato são duas coisas interligadas."
SERVIÇO:
Art'Nina - Casa do Artesanato - (41) 3432-3222, funciona diariamente das 9h30 às 17h30
Atelier Ubá - Alexandre Ztrahal - (41) 9981-4657 e aestur@ibest.com.br
Samantha Wanke - (41) 8835-4818 e samanthawanke@hotmail.com
Copescarte - Leocília Oliveira da Silva - (41) 3432-3136
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